11 de dezembro de 2011

Pensar dói

Um dia ela simplesmente acordou em paz. Consciente de sua vida, seus problemas e suas alegrias. Repentinamente, essa consciência foi um alívio, e não um tormento. Então isso é a tal paz interior?, pensou ela, com o coração ainda leve.
Sem muito pensar, foi à rua; andou por horas, sem direção certa. Sentia o vento em seu rosto; a leve chuva que caia não era incomodo algum; na verdade, ela até preferia. Nessa andança toda, procurou não pensar: já o fizera muito anteriormente. Apenas contemplava a paisagem que surgia. Os homens engravatados e apressados. As mulheres bem vestidas protegendo os cabelos falsamente lisos. Ela não entendia o motivo de tanta pressa. Será que eles não veem que isso não leva à nada? Que essa pressa toda não os permite sequer pensar?, questionava-se. Mas a resposta logo lhe ocorreu: o objetivo é justamente esse, não pensar!
Pensar é doloroso. Permite-nos questionar o que temos e quem somos, e a perspectiva de se descobrir que não se tem nem se é nada, é assustadora. Por isso a maioria das pessoas passa pela vida se ocupando a todo instante.
Mas, não foi justamente permitindo-se pensar por tanto tempo que ela chegara nesse estado de paz? Quando se deu conta, ela estava a gritar pela rua. “Permitam-se pensar”, “Descubram quem são e o que querem”, “Achem a paz que tanto querem, mas se esforcem pra isso”.
Estranhos a olhavam, alguns com cara de espanto, outros a ignorando deliberadamente, todos muito ocupados em não pensar.
Eles simplesmente não entendem. Eles nunca entenderão...

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